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terça-feira, 21 de abril de 2015

Analisando- Kiseijuu: Dos anos 1980 a 2014

E você achava que te ruma lombriga no seu intestino era ruim?


Por MIKA

É engraçado a forma como conheci o mangá Kiseijuu. Começou quando eu ganhei uma edição especial da revista Mundo estranho sobre ficção científica, e na parte que falava de mangás do gênero, um dos que aparece ilustrado é justamente Kiseijuu. Quando o anime foi anunciado, foi uma surpresa, pois era algo meio que inesperado, e assim que vi o nome, logo reconheci o mangá! E eis que saíu o anime, scans traduziram o mangá, e agora chega uma análise sobre tal material, que foi um dos maiores sucessos de 2014! Vale lembrar que este texto vai mais por minha opinião, por isso podem me criticar nos comentários e dizer sua opinião sobre o anime em questão. Vamos?
A história
Alienígenas parasitas descem do céu em silêncio, na escuridão. Precisam de hospedeiros humanos para sobreviver. Infectam suas vítimas pelo nariz e pelos ouvidos, chegando ao cérebro, matando a consciência e assim, assumindo o cadáver. E aí, escolhem a forma que quiserem, como demônios dentuços ou seres com asas e monstros com lâminas nas mãos. A maioria, claro, vai manter a forma humana para não levantar suspeitas. E é a partir disso que eles enganam outros humanos e passam a mata-los para se alimentar de sua carne e sangue, gerando uma onda de assassinatos e mortes por todo o Japão. No meio disso tudo, o adolescente Shinichi Izumi também é infectado, mas o parasita acaba entrando em sua mão e vez do cérebro. Juntos, eles devem combater outros alienígenas que estão atrás deles, e assim proteger todos, acima de tudo sua namorada, Satomi Murano.
Considerações Técnicas
Kiseijuu (ou Parasyte) foi um anime popular em 2014, e não é pra menos. Com tantos animes de terror que decepcionaram, Kiseijuu parece que foi o único que seguiu o rumo certo. Para entender isso, vamos ao ritual padrão, começando pelos personagens.

Shinichi Izumi, o protagonista, embora no início seja um banana covarde que tem medo até da própria sombra, aos poucos vai evoluindo e amadurecendo, e aprendendo a lidar com seus medos. Ele foi um bom protagonista, gostei da evolução dele. Não lembro se no início do mangá o cara usava óculos como no anime, e se foi algo que os produtores inseriram, provavelmente foi para ajudar a diferenciar o antigo Shinichi, que era um covarde e “mijão”, do Shinichi que estava por vir.

Migi, o parasita de Shinichi, foi outro que evoluiu consideravelmente. Não vou falar muito sobre isso, pois seria spoiler, mas posso dizer que graças ao Migi o anime foi uma experiência ainda melhor. 

Satomi Murano foi a garota chata do anime. Ela era egoísta, imatura, não aceitava que o Shinichi tivesse amigas, era ciumenta demais, só pensava nela mesma e vinha sempre com o papo de que queria ajudar o Shinichi quando no fim era só “ela”, e só sabia chorar e perguntar “Você é o Izumi-kun?”. Meu, o Shinichi é um herói por conseguir aguentar uma mina dessas!  Sei que ela tinha seus motivos, e tals, mas poxa, que tipo de namorada é essa que [SPOILER] em vez de consolar o cara quando uma amiga morre diante dele, ficar implicando por ele ter estado no mesmo lugar que a amiga? Tudo bem que o Shinichi também cometeu mancada e não pode contar pra Satomi sobre os parasitas senão o Migi mata ela, mas ela poderia pelo menos dar um desconto, pois a amiga morreu, O CARA TÁ ARRASADO, NÃO É FÁCIL LIDAR COM A MORTE DE UM AMIGO OU PARENTE, AINDA MAIS QUANDO A MORTE OCORRE DIANTE DE SEUS OLHOS1 PARA DE PENSAR EM SÍ MESMA E TENTE VER O LAOD DO SHINICHI, SATOMI SUA VADIA FILHA DA PUTA! [Fim do Spoiler e do Desabafo]. Enfim, gosta dela, beleza, mas isso é algo que não devemos criticar, o gosto de cada um, e sim, não gosto dela, e dane-se, não gosto e pronto!

A Reiko Tamura foi outra, o anime inteiro ela foi a vilã. Mas ela sofreu umas reviravoltas, nossa, nem vou comentar mais, pois é spoiler. Mas que personagem!
Os outros personagens são meio randômicos, e nem vale muito a pena falar sobre eles, pois muitos morrem depois. Só vou dar destaque para minha personagem favorita, a Kana Kimishima. [COMENTÁIRO COM SPOILER] Poxa vida, a Kana não deveria ter morrido. Eu a acho muito melhor que a Satomi. Tudo bem que ela fez umas burrices e por conta desse seu espírito sonhador acabou morrendo, mas poxa vida, ela era a melhor garota do anime. [FIM DO SPOILER]

E vamos para o enredo. E que enredo! Kiseijuu aparece como “mais um anime de terror semelhante à Tokyo Ghoul ou Shingeki no Kyojin”, afinal, são coisas que matam e comem humanos (no bom sentido... Isso é se comer alguém como se fosse um sanduíche é “bom sentido”). Mas Kiseijuu trabalha com isso de uma forma honesta. Ele não faz o protagonista ser incitado por uma força maior para sofrer uma evolução. Eu comentei na análise de Akame ga Kill que Tatsumi era um péssimo protagonista por não ter sofrido traumas ou mudado sua atitude mesmo com as diversas mortes ao seu redor. Pois em Kiseijuu, Shinichi vê muita gente morrer e muda. O garoto vai aos poucos percebendo a dura e cruel realidade na qual foi jogado, e que todo aquele castelo de flores do qual vivia não existe mais. E não são mortes quais queres não: Shinichi presencia diversas mortes “traumatizadoras” mesmo, que fariam qualquer um mudar. E só de Shinichi ir evoluindo, foi um ponto positivo.

A trama também trás questões políticas e filosóficas muito boas. Afinal, por que os Parasitas existem? Quem é a verdadeira ameaça? Em determinado momento, questiona-se se os Parasitas não existem como uma espécie de “cura” contra os humanos por eles serem responsáveis pela maior parte da destruição na Terra. Seria isso mesmo? Os Parasitas existiriam para poder conter os humanos? Sim, são questões que Shinichi vai filosofando durante o anime, e assim fazendo um paralelo entre humanos e parasitas. Diversas vezes, Shinichi afiram que eles são monstros que matam, mas em outros ele para pra pensar sobre estas questões. Assim como Tokyo Ghoul, Kiseijuu propõe o leitor/telespectador a refletir sobre a existência humana.

Afinal, nós humanos estamos teoricamente no topo da cadeia alimentar, matamos vacas e galinhas para nos alimentarmos delas, mas e se um dia as vacas perceberem o destino delas e nos acusarem de monstros e quiserem nos exterminar? Ou melhor, e se um dia, surgir um predador para o ser humano, que esteja acima dele? Nós humanos, obviamente, iriamos acusa-lo de monstro e se embrenhar numa caçada para exterminar sua espécie, sendo que ele só quer se alimentar. O que nos faz melhores do que os outros? Por que não aceitaríamos um ser acima de nós na cadeia alimentar? Por que sempre queremos estar no topo? Afinal, por que os humanos têm de estar no topo, e eles não aceitam nenhum outro ser acima deles? Kiseijuu vem com essa proposta, nos mostra como seria se tivesse uma espécie acima de nós nessa cadeia. Sim, humanos, somos terríveis, achamos sempre que o outro é o culpado, e não aceitamos diferenças. Não paramos pra pensar que não queremos ser mortos por outros para sermos devorados, mas nós mesmos matamos outros seres com o mesmo propósito. O ser humano, em si só, é predador de si mesmo. Aliás, essa questão também é muito bem trabalhada. Um assassino que aparece no anime declarou que humanos matam por instinto, e que essa é a lei natural. Talvez em tese seja verdade, afinal, quantas vezes na história da humanidade alguém matou outro alguém por um motivo aparentemente bobo? Humanos também possuem um instinto de sobrevivência que muitas vezes pode obriga-los a tirar a vida de outro para não tirarem a sua. 
Posso afirmar que é com um enredo assim, bastante filosófico, combinado com cenas de ação bastante frenéticas, que Kiseijuu superou qualquer expectativa.

Agora os defeitos: Muitos personagens, infelizmente são deixados de lado. Uma garota que aparece em determinado arco do anime, depois nunca mais aparece, nem sequer é citada. Outros personagens interessantes de serem explorados no fim também são esquecidos. Apenas dois são lembrados e retornam de forma brilhante.

Outro problema é que a série, embora seu enredo tenha um ritmo bom (onde as coisas não acontecem por coincidência, e as lutas são muito bem equilibradas), ás vezes a história parece meio condensada. O final não foi grande coisa, dava para explorar mais as coisas como os próprios Parasitas, parece que o autor foi obrigado a encerrar o mangá. No fim, é um final que deixou ainda algumas dúvidas e nos pareceu algo bem interrompido mesmo. É como aquela novela que tem um final que parece que não é final, parece que interromperam de repente, e aí o episódio final acaba por parecer um episódio comum que teria continuação, mas não vai ter mais. 

E uma pequena coisa que tenho de observar no anime é o harém. Sim, tem harém. Embora o mangá seja de 1989, ele é um dos primeiros a ter esse tipo de material, e eu achei meio desnecessário a existência dele, para nossa sorte ele não interfere muito no enredo e acabou sendo deixado de lado.
A animação é perfeita! O estúdio MadHouse (Death Note, Nana, Chobits, Hunter x Hunter, No Game No Life, Mahouka Koukou no Rettousei) fez um excelente trabalho! O 3D funciona bem, o movimento dos personagens é fluído, a direção do novato Ken’ichi Shimizu foi boa, o character design do também novato Tadashi Hiramatsu, embora tenha se diferenciado do traço original do mangá, estava muito bom, dava um ar mais top para o anime. E por fim, os roteiros de Shouji Yonemura (Guin Saga, Kaidan Restaurant) foram ótimos, bastante fiéis ao mangá. Aliás, devo elogiar um fator: No anime os personagens usam tablets e celulares touch, algo que no mangá não se utiliza (claro, o mangá é de 1989, não existia nada disso). Isso é bom, pois aproxima a história para nossa realidade, para os dias atuais. Achei essa adaptação muito bem feita, nem censura o anime teve. 
A dublagem é ótima, com Nobunaga Shimazaki (o Haruka de Free!) como Shinichi, Kana Hanazawa (a Shiro de Deadman Wonderland; confira nosso Hall dos Dubladores) como Satomi, Aya Hirano (Haruhi de Suzumiya Haruhi no Yuutsu) como Migi, Miyuki Sawashiro (Saeko de HOTD) como Kana, Atsuko Tanaka (a Konan de Naruto) como Reiko... Muito boas.
Comentários Gerais                         
Kiseijuu mostrou ser um sucesso. Embora tenha tido lá seus problemas, ainda sim é um excelente anime de terror, e comparando outros animes de terror que tivemos em 2014 como Pupa, Tokyo Ghoul, Gokukoku, Terra Formars, e semelhantes, Kiseijuu foi de longe o melhor do gênero. Recomendo para os amantes do horror nipônico e grotesco. Se você busca um anime fiel ao mangá e com gore e batsnate “hadcore”, claro que Kiseijuu é para você! Agora, se você não gosta de animes sanguinolentos de horror, aí passe longe deste anime.

Acho que este é um dos poucos animes que posso afirmar que vale a pena tanto ler o mangá quanto ver o anime, já que a história é a mesma, visto a excelente fidelidade.  Não sei quanto vendeu, mas pelo que tenho visto na Internet recentemente, parece que a franquia virou um sucesso no Japão. E antes do anime, foi o ganhador de melhor mangá de 1996 no Seiun Award. E foi um sucesso de vendas nos Estados Unidos, ganhando cerca de 3 impressões diferentes por 3 editoras, sendo a última inclusive em 2012 pela própria Kodansha US. Se vai ter segunda temporada? Não, infelizmente, pois o anime cobriu o mangá até o último capítulo, e a não ser que o autor lance uma continuação ou adaptem os spin-offs, não veremos tão cedo Shinichi e Migi nas telas.

Pelo menos tem dois live actions lançados em 2014 e 2015, que eu recomendo.
Por MIKA.
E PARA ENCERRAR, NADA MELHOR DO QUE A CLÁSSICA CENA DO MANGÁ, TRASPOSTA NO ANIME.

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